nheiro em lenha todo o anno, e que deve ser abastado pro prietario de um bem sortido armazem de telhas. Antonio Pereira Fabre (Oliveira d'Azemeis.) NOVEMBRO-22. Pobreza não é vileza.-Um individuo cheio de dividas encontrou n'um dia de inverno a certo poéta que havendo já tido carruagem, por más circumstancias se via obrigado a andar a pé. Motejando-o por isto, respondeu-lhe o poeta com a seguinte quintilha: Burro sineiro.-Em Albufeira, por falta de meios, ou antes por incuria dos seus habitantes, não tem a matriz uma torre onde se colloquem os sinos, que se achão suspensos em varões de ferro n'umas janellas, debaixo das quaes existe um arco de 18 pés. O antigo sacristão escolheu este logar para livrar o seu burrinho dos rigores das estações. Um dia chegando de fóra, a pressa o obrigou a prender o quadrupede á corda que estava pendente do sino; mas o que hade acontecer? O bom animaleje vendo uma fêmea da sua especie, alegrou-se, e tal foi o enthusiasmo, que apezar de preso intentou seguil'a: eis que de repente o sino começa a tocar, o burro a zurrar, a burra a fugir, e muita gente acudindo, pensando que tocava a fogo. Portuguezes e castelhanos.-Prégando um padre sobre o amor do proximo disse com a mais profunda convicção: «Irmãos, devemos amar a todos, até aos castelhanos.» Galveias. —Villa na provincia do Alemtejo, a nove léguas de Portalegre, edificada nas encostas d'uma collina de vistosa apparencia. Do cume d'este pequeno monte, onde existe a igreja matriz, goza-se de um bello e pittoresco horisonte, que se prolonga atravez de um extenso valle, todo recamado de corpulentas laranjeiras, limoeiros e outras arvores seculares de folhagem e fructos diversos. Dirieis ver alli um d'esses bosques decantados que na quadra florecente encantão a vista pelo variado matiz de suas côres, e embalsamão a atmosphera com o grato aroma de suas flores. O seu clima é dos mais salubres e as suas terras das mais productivas. Foi fundada por Frei Lourenço Affonso, Mestre da Cavallaria da Ordem d'Aviz em 1342, e elevada á cathegoria de villa por El-Rei D. João III em 1538. José Godinho Mendonça (Galveias). NOVEMBRO-25. NÃO AMES! Invejas da borboleta Pois encontras n'essa louca E não sabes que essa turba, Não sigas pois os impulsos -Não ames!-é o conselho Uma Setubalense. Carvalho ou pinheiro?-Perto da Mourisca, povoação que se encontra na estrada do Porto, ha um caminho que se dirige a um povo camado Arrancada. Já proximo d'este ultimo logar, no fim de uma ladeira ingreme e pedregosa, ha um sem numero de carvalhos e pinheiros, e do lado direito, mesmo á borda da estrada, se encontra o seguinte prodigio do reino vegetal. É um carvalho que devia ter sido bello, se se attende á circumferencia do tronco, mas que talvez algum tufão partisse, deixando-lhe só o tronco, da altura de dous metros, pouco mais ou menos Fórma ahi a rama uma copa redonda e verdejante, do centro da qual sahe um magestoso pinheiro (não direi agora com certeza se é manso ou bravo, mas julgo ser manso) que terá os seus tres metros de altura, direito e viçoso como o carvalho que o alimenta. As suas raizes achão-se embebidas na cavidade que deixou o tronco partido no resto que não desamparou o sólo. Se o pinheiro sustenta as suas raizes n'aquelle pequeno vaso, ou se atravessando o tronco as mergulha na terra, é o que não poderei dizer, mas o que digo com certeza, porque o vi, e o que a minha fraca intelligencia mais admira, é que dando ambas fructo, estes sejão distinctos e perfeitos. Nasceria aquelle pinheiro alli filho de alguma semente que por acaso o vento conduzisse, ou será obra da mão do homem? Foi o que me não souberão dizer. Resta agora saber como o dono o hade denominar, se carvalho, se pinheiro. Faz lembrar aquelle tão antigo problema que propozerão ao laponio, mostrando-lhe um macaco e perguntando-lhe o que era; ao que elle respondeu com muita paz de espirito:-«eu não sei! para ser velho tem corpo de menino, e para ser menino tem cara de velho.. Maroto de grandes barbas.—Caligula prohibio, com pena capital, que na sua presença se falasse em cabra ou bode, porque tinha umas barbas compridissimas. Impressões de jornada.-No dia 23 de Junho de 1859 cheguei a esta villa de Ayuruoca, vindo do municipio de Resende, e depois de haver feito uma excursão a Itatiaia. Cumpre-me fazer uma descripção, ou antes um bosquejo, d'esta parte da Mantiqueira. Distante d'aqui 13 léguas partí com as necessarias munições, armas e instrumentos: estive tres dias no retiro de um proprietario de Resende, á espera que o tempo melhorasse: no dia 22 dourava o sol o cimo das montanhas e alimentava a esperança os corações de nossos companheiros de viagem: uma saraiva, que foi geral, e grandes descargas de electricidade, purificaram o ar. Pozemo-nos a caminho: mandámos abrir a picada em uma esteril serra de matto virgem, banhada em suas faldas pelo rio Ayuruoca, muito proximo á sua origem. Com grande custo e trabalho andamos uma légua em tres horas, conseguindo chegar a uma longa plataforma d'onde surgião 13 elevadas serras, soberbas filhas de uma grande revolução de fogo subterraneo. Pedras côr de chumbo, ôcas, perpassadas de cinzas, com immensas cavidades onde gelão as aguas pluviaes todo o anno, revelão uma erupção volcanica em tempos immemoriaes. A terra d'esses campos solitarios, onde se refugião os animaes indomitos, é sem liga, preta, fofa, escorregadiça: a madeira das florestas virgens é leve, fraca, de ligeira combustão. Na tarde do dia 22 galgámos n'um quarto d'hora a serra da direita, ao sul, e d'alli, vendo-nos elevados a uma altura consideravel, tiritando de frio, vimos o thermometro abaixo de zéro. Desde a fréguezia da Alagoa, parte d'este termo, começámos a subir os Montes Bellos (antiphrase) até chegarmos ao termo de nossa viagem. Divisámos lá em cima um bellissimo horisonte circular, em que apparecião as provincias de Minas, S. Paulo e Rio de Janeiro. O céu mineiro estava enfumaçado com a queima dos campos; o de S. Paulo puro, mórmente depois que o sol afugentara os vapores exhalados do rio |