POEMAS LUSITANOS DO DOUTOR ANTONIO FERREIRA SEGUNDA IMPRESSÃO. Emendada, e accrefcentada com a Vida, e Comedias TOMO II. LISBOA NA REGIA OFFICINA TYPOGRAFICA ANNO M DCC LXXI Com licença da Real Meza Cenforia. A' custa dos Irmãos Du-Beux, á Cruz de Páo. Congratulação de todo Reyno a elRey D. João 111. na morte do Principe D. João feu filho, que fofreo pacientiffimamente. CARTA I. Rá Rey, Senhor das Cafas do Sol ambas. Boniffimo JOAM, mais pay da patria Que Brutos, ou que Auguftos, ou Trajanos, Por grá mercê de Deos, e gloria nofla Dado a eftes Reynos teus do rico Téjo Até Eufrates, Nilo, Tigris, Gange; Vencedor da braveza de Neptuno, Senhor de feu Tridente, e ricas conchas, De barbaros efpanto, amor, e medo. Luz clára de infieis; coluna firme Da catholica Fé; de idolatrias Falfas deftruidor, paz do teu Reyno. Fortiffimo JOAM, graças te damos. Não por ruas victorias com que efpantas A ii Ο O Mundo todo; não por teus thefouros, Não te louvamos, Rey, não te louvamos De trabalhofas pontes femeadas De peças de ouro, e prata, e ricas pedras, De ti fó te louvamos: de ti fó Damos graças ós Ceos, que te nos déram A A fortaleza grande, e gloriosa Pera fempre a teu nome, a efte teu Reyno, Que exemplo immortal fica d'outros Reynos; Aquella fortaleza nunca vifta, Grá Rey, que contra a morte de hum teu filho, Unico fucceffor do teu eftado, Moftrafte, quem a entende? quem não espanta? Como fe póde crer dos que vierem? Ou em qual dos paffados fe vio nunca ? Chriftianiffimo Rey, crer-fe-ha de ti, De JOAM o Terceiro, que conftancia, Que efpantos, que grandezas, que milagres Se não creram no Mundo? teu bom nome, Por onde quer que foa, ama-fe, e espanta. E foa defd'hum polo ao outro polo. Fere novas Estrellas, novos Ceos, De ti fó defcubertos, e moftrados. Efpantem outros, fejam mais temidos Que Tigres, que Liões, e trema ant'elles Como ant'a mesma morte o triste povo, Não oufem levantar os olhos nunca A feus irofos rostos: adorados Se façam fer por forças, e por medos, Novas cruezas ufem, com que tenham Seguros os eftados de feus odios. Tu rege manfamente, e com juftiça, Eftas fejam tuas artes, a paz ama: A vencidos perdoa, que fe entregam. A foberbos deftrue, desfaze, e apaga. Amemofte nós fempre, e te chamemos Clemente, bom, Chriftão, pay do teu Reyno, Filhos teus nos chamemos: como pay Nos ama, nos caftiga, e nos perdoa. Pendamos de teus olhos, moftra-os fempre Seguramente rindo: effa tua graça A iii Mais |