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IX

sagrada ás sciencias naturaes, e na qual só por incidente trata de poesia.

Pozemos todo o cuidado em não inserir no corpo deste mesquinho opusculo senão as noticias mais intimamente ligadas com o assumpto, reservando para as Notas que vão no fim as explicações que se nos affigurárão necessarias.

Em tamanha pobreza de merecimento, e de titulos que nos recommendem, só nos póde amparar a generosa indulgencia dos Leitores,-e essa pedimos e supplicamos.

:

On voit à nu ce sage et brillant Orient.

L'Europe lui envoya un poète pour le saluer, le chanter et le peindre; noble ambassadeur de qui le génie et la fortune semblaient avoir une sympathie secrète avec les régions et les destinées des peuples de l'Inde.

CHATEAUBRIAND.

A

Natureza, no ponto de vista scientifico, he hum problema que o Omnipotente offereceu á resolução da intelligencia humana, a qual vai pouco e pouco, na serie successiva dos seculos, forcejando por descobrir mysterios, e penetrar segredos. Mas tão longe foi a bondade infinita de Deos, que, a par dos gósos do espirito, quiz tambem proporcionar ao coração do homem o mais doce enlevo-no contemplar as maravilhas, e admirar as bellezas do Universo!

Se Humboldt," no seu «Cosmos», (2) se propõe principalmente a apresentar huma descripção physica do mundo, e, por consequencia, mais lhe importa a resolução do grande proble

ma, do que The interessão as impressões estheti

cas e moraes; nem por isso o sabio, ao mesmo tempo dotado de huma alma verdadeiramente poetica, deixou de ter por conveniente a observação da Natureza atravez das emoções dos poetas, dos pintores, dos viajantes, que ante a formosura de deliciosos paineis naturaes se extasiárão, patenteando as suas sensações nos versos, na teia, ou hos albums.

Neste sentido falla Humboldt de Camões e dos Lusiadas.

Debalde aspirará hum Poeta a descrever com fogo e com fidelidade a Natureza, se a sua vida tiver corrido no meio das Cidades, no retiro do gabinete, na monotonia de huma existencia sem episodios. Mas, se o poeta tiver feito a guerra nas faldas do monte Atlas, se tiver combatido no Mar Vermelho e no Golpho Persico, se duas vezes tiver dobrado o Cabo da Boa Esperança, se durante dezeseis annos, nas ribeiras do Indo, nas praias da China, tiver prestado hum ouvido attento aos phenomenos do Oceano, como de Camões diz Humboldt; se esse poeta tiver o os magna sonaturum, e a sensibilidade das almas privilegiadas... oh! esse... será assaz poderoso para reproduzir em seus versos a magia da Na

tureza!

Tal foi Camões; e nem sequer os accentos da sua melancholia, originados do infortunio, nem o enthusiasmo da inspiração, nem os esforços da linguagem, roubão a minima particula á verdade dos phenomenos, nem á exacção das suas descripções, antes a arte, segundo finamente observa Humboldt, tornando ainda mais vivas as impressões, augmenta o grandioso e a fidelidade das imagens, como sempre succede a quem recorre a huma nascente pura.

Quer o Poeta nos descreva o remanso dà natureza, ou a inquietação furiosa do mar, ou a braveza da tempestade no meio das florestas; ou desenhe a physionomia das terras africanas, ou a configuração da Europa, ou o movimento dos astros; ou nos conte os successos, e perigos, e até as especialidades technicas da vida maritima; ou nos dê noticia dos phenomenos naturaes... sempre a verdade brilha na imaginosa pintura de Camões, sempre a fidelidade sobresahe nos inimitaveis quadros, que o seu pincel magico e encantado offerece á nossa admiração:

Os ventos brandamente respiravão,
Das náos as vélas concavas inchando;
De branca escuma os mares se mostravão

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